
Ao entardecer, em uma alameda de paralelepípedos, íngreme, rodeada por prédios e casas ligeiramente antigos, havia algo de diferente, algo de extraordinário, algo que ninguém mais tinha visto, até então. 
Naquela cidade na qual nunca parava, ninguém prestava realmente atenção por onde passava, e isso ninguém poderia negar. Estavam preocupados demais com a rotina, que esqueceram de sonhar e realmente viver. Óbvio, que existiam algumas opções.
A rua estava meio cinzenta, o sol se escondia atrás dos prédios e casas, nas quais praticamente engoliam a pequena rua que as atravessava. Não passavam muitos carros ali, portanto crianças brincavam de bola enquanto podiam, até escurecer totalmente. Havia uma menininha, com mais ou menos 3 anos de idade. Ruiva, com olhos azuis, e cílios longos, buchechas rosadas e lábios vermelhos. Os meninos, provavelmente seus irmãos, que brincavam de futebol com uma bola de meia, não a deixaram brincar, e isso a deixou mais isolada, sentada na estreita calçada, observando-os.
E então, a pequena menina sentiu uma brisa que fez seus cabelos arrepiarem, e por algum motivo inesplicável, a fez levantar e seguir as folhas que esse vento levava. Depois de alguns tropeços e empurrões de adultos apressados, a pequena ruiva chegou a uma praça, com menos gente. 
Lá então, ela encontrou um cachorro, de pêlos pretos, curtos. Ficou ofegante olhando ele, era algo que nunca tinha visto antes, aquela sensação de que aquele cachorro era familiar. Chegou mais perto do mesmo, e ele não se moveu. Apenas olhava fixamente para os incríveis olhos azuis da menina, que retribuía o olhar. Ela percebeu que ele tinha os olhos azuis, os quais eram familiares também, e, apesar de aparentar não entender o que eles queriam transmitir, entendia cara sinal, e expressão, transportada até seus olhos.
Eles não tinham tempo, já estava escuro o bastante para não existirem mais pessoas apressadas andando pelas ruas. O tempo tinha parado, naquele pequeno momento inesplicável e extraordinário. Foi um encontro rápido, mas com muita emoção e energia.. Ela entendeu ele, e ele entendeu ela. Algo que mais nenhum adulto poderia fazer por alguma criança, algo puro, sem falsidades. Algo que ninguém mais sentiu.